Gritar em nome de Jesus

14/08/2013 09:21

E exclamou em alta voz, e disse: Bendita és tu entre as mulheres, e bendito o fruto do teu ventre. (Lc 1, 42)


E, tendo dito isto, clamou em alta voz: Lázaro, sai para fora. (Jo 11, 43)

Passo pelas ruas do meu bairro, caminho por estreitas ruas de favelas. Passeio por algumas ruas do centro, no sábado e no domingo, e vejo pessoas orando silenciosas e calmas dentro de seus templos. É bonito! Orar junto é, também, um ato de cidadania.

Passo pelos mesmos lugares e não poucas vezes ouço vozes gritando o nome de Jesus. Alguns fazem com alarido, de maneira a incomodar dez ou vinte prédios vizinhos. Ouço alto-falantes ligados ao máximo e pessoas a gritarem o santo nome de Jesus na cidade que nem sempre o acolhe. Não foram para um campo ou um lugar isolado: estão ali, no meio dos outros, de certa forma obrigando-os a ouvirem os seus cultos. A cidade vai ter que ouvi-los na marra!

Aqueles que oram serenos em nome de Jesus fazem bem; também os que pregam serenos, a invocar o mesmo nome. Já, os que gritam em nome de Jesus, não fazem o bem que pensam fazer. Na realidade, estão mais perto do fanatismo do que do cristianismo, posto que o estão impondo, como foi o caso do moço que, no avião, obrigou todos os vizinhos a ouvir seu testemunho. Enfiou Jesus à força nos nossos ouvidos. Os que gritam Jesus em alta voz pela cidade que descansa ou dorme, agridem o direito alheio. Jesus, que em Marcos 9,38-39 mandou os discípulos respeitarem alguém que não era do seu grupo, certamente pediria a esses pregadores que respeitem os seus vizinhos ou as pessoas que não são da sua Igreja. Ninguém é obrigado a ouvi-los. Se querem anunciar Jesus, comecem anunciando com respeito, diminuindo o som da sua Igreja, para que ele funcione apenas lá dentro.

Os aparelhos de som amplificado trouxeram enormes possibilidades para a comunicação humana, mas causaram também enormes problemas de cidadania e desrespeito aos enfermos, aos vizinhos, aos de outra religião que, às vezes, são obrigados a nos ouvirem. Nem os enfermos eles respeitam! Para isso há leis e há estádios.

Ao nosso direito de pregar e anunciar Jesus corresponde o dever de fazê-lo com o devido respeito aos outros crentes de outros caminhos. Ninguém é obrigado a ouvir a nossa pregação e a engolir a nossa fé. Não temos o direito de empurrar a nossa religião pelos ouvidos alheios. Mas é o que tem acontecido no Brasil e no mundo de hoje, exceto nos países onde este abuso foi corrigido, porque chegou ás raias do absurdo. 

Dirão que Jesus gritou no templo. Isso mesmo: no templo e sem microfones. E quando gritou nas ruas, em geral foi para gente que foi lá ouvi-lo. Sou capaz de apostar que Jesus não sairia hoje, de carro de som no mais alto volume, a obrigar o povo a escutar a sua mensagem. Ele nunca forçou ninguém a ouvi-lo. Os fariseus vinham porque queriam e, em geral, com segundas intenções. 

Há lugares onde é preciso pedir autorização e, mesmo concedida ao pregador, ele deve incomodar o menos possível os que não são da sua igreja. Sou daqueles que afirmam e, disso estou plenamente convencido: - o quanto mais as Igrejas gritarem mais aumentará o número de ateus. Evangelização supõe um mínimo de boa educação. Quem impõe a sua fé nos outros não é missionário. Jesus nunca propôs esse tipo de comportamento anti-ético! Deixava que os ouvintes escolhessem. Confira João 6, 67. 

Há duas maneiras de interpretar a Bíblia. Uma, ao sabor de nossa própria ignorância, pregando o que sentimos e achamos que ela quis dizer e arrotando certezas absolutas. A outra, orientados pelos estudos e pesquisas de gente séria e preparada. 

Pde Zezinho - Scj

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